Cresce entre analistas de mercado o reconhecimento de que a crise econômica na qual o Brasil se encontra tem suas raízes não somente nos desequilíbrios públicos, mas também no setor privado. Dados da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos apontam que tanto empresas quanto indivíduos estão significativamente endividados. No caso das firmas, aproximadamente 50% delas têm geração de caixa insuficiente para pagar as despesas financeiras. No tocante às pessoas, 22% de seu orçamento é destinado exclusivamente para quitar juros de dívidas. Consequentemente, as instituições com a função de recolher dinheiro sem utilização produtiva e intermediá-lo para agentes produtivos, os bancos, se tornam cautelosos em uma conjuntura como essa. Estima-se que o crédito encolheu aos valores de 2012.
Para piorar, a maioria dos municípios e estados, bem como a União, estão com as contas deficitárias. Portanto, a crise de endividamento engloba os setores privado e público. Em relação ao setor público, medidas para reverter o quadro têm sido pensadas e empreendidas, como é o caso da reforma da previdência e da aprovação da PEC 241 (55), a PEC do teto dos gastos. Entretanto, e dado o reconhecimento tardio do endividamento privado, medidas direcionadas para aliviar essa questão não foram realizadas.
Em 2007/2008, os Estados Unidos da América sofreram forte crise financeira, culminando no enfraquecimento de bancos, em grande desemprego e no baixo crescimento econômico. A reversão desse cenário ocorreu por meio de 5 trilhões de dólares: 850 bilhões de dólares do governo para socorrer bancos e empresas, para que não quebrassem e aprofundassem a crise, e 4 trilhões de dólares gastos pelo banco central na aquisição de títulos lastreados em hipotecas. Após cinco anos, essas medidas surtiram efeito e o país superou a estagnação e a desconfiança dos mercados.
No caso brasileiro, não há espaço para gasto público dessa magnitude, e nossa taxa de juros Selic está em 13,75% – ao contrário de 0,25%, que o banco central norte-americano estabeleceu durante a crise. Por outro lado, temos a vantagem de não existir uma iminência de quebra de bancos e de outras instituições financeiras.
Historicamente, países com elevado endividamento privado levaram mais tempo para superar a recessão em que se encontravam. Pode ser que a recuperação prevista por muitos analistas não esteja tão próxima como imaginada previamente. Entretanto, estamos, ainda que lentamente, compreendendo melhor a crise econômica, e isso pode propiciar um melhor caminho para a sua resolução, como a maior pressão sobre o banco central para reduzir a incrível/surreal/incompatível taxa de juros de 13,75%, que prejudica tanto o setor público (fica mais difícil rolar a dívida pública e maior o pagamento de juros) quanto o setor privado (crédito mais caro e de difícil acesso).